terça-feira, 15 de agosto de 2017

Só provando




Nas minhas viagens procuro reservar um tempinho para conhecer algumas pessoas que possam me ensinar um pouco sobre a realidade local. São conversas informais, normalmente são momentos extremamente divertidos e, por vezes, inusitados. Mas, sempre são aprendizagens maravilhosas.

A última delas aconteceu semana passada, em Manaquiri/AM. Ao lado do prefeito e amigo Jair, fui conhecer a Feira do Produtor Rural de Manaquiri, uma iniciativa da prefeitura para escoar, na própria cidade, a produção dos diversos agricultores familiares que existem no município.

A feira é sensacional. É realizada toda sexta-feira, na quadra de esportes que fica no centro da cidade, na frente da prefeitura. Quem toma conta da feira e coordena todo o processo – da seleção dos produtores, até o controle sobre tudo o que foi comercializado – é o Mário, secretário municipal de Produção e Abastecimento.

Um minuto de conversa com ele e qualquer pessoa fica convencida da importância da feira enquanto política de inclusão socioeconômica dos produtores locais. E não são os argumentos técnicos os mais relevantes, mas sim, a comprovação de que tudo aquilo é feito com muito amor.

O trabalho começa cedo. Às 4:30 h da manhã, quando os produtores cadastrados começam a chegar, com suas “rabetas” (pequenos barcos movidos a motor de popa) no porto da cidade. Sim, há um cadastro! Só podem participar da feira aqueles que produzem produtos regionais e, para garantir a diversidade, existe uma seleção de acordo com o que o produtor vai levar para a feira. A equipe do Mário, a partir dessas informações, toma nota do que vai ser comercializado e da quantidade que cada produtor está levando para a feira. No final da manhã, é feito um levantamento sobre o quanto cada um vendeu. Assim, a prefeitura pode verificar se os produtores estão tendo lucro com a feira. É fantástico!!!

A prefeitura subsidia o combustível para cada um dos produtos que participa da feira e, às 4:30h, a equipe já está a postos para ajuda-los no transporte das mercadorias até o local da feira, que é aprontado desde à noite anterior. Às 6h em ponto, a feira é aberta, já com todos os produtos expostos e todos os produtores devidamente identificados com seus coletes verdes (o que rendeu o apelido de periquitos). A participação da população não deixa a desejar e, já nas primeiras horas, a procura por alguns itens é grande, fazendo-os esgotar rapidamente.

Foi o aconteceu comigo. Desde que cheguei em Manaquiri, na quinta-feira, que Mário e o prefeito fizeram a propaganda da farinha do Renan. Uma farinha especial, selecionada! Renan faz parte de um grupo de produtores da comunidade Andiroba e, desde que a feira começou (há 3 meses), a “farinha da Andiroba” ganhou fama.

Cheguei na feira por volta de 8h e, para minha supresa, quando fui comprar a tão falada farinha, soube que já tinha acabado e que Renan já havia ido embora! Pensei: Caramba! Se em menos de 2 horas, Renan vendeu tudo, precisa aumentar sua produção!!

Fiquei com um sentimento misto de frustração e felicidade. Frustração por não encontrar a farinha e felicidade por saber que, se há pouco tempo atrás aquele monte de produtores não tinha para quem vender sua produção, a iniciativa da prefeitura estava trazendo ganhos concretos para eles.

Mas, para minha surpresa, quando estávamos saindo, eis que surge Renan. O sorriso no rosto e o brilho no olhar não escondiam sua felicidade. Perguntado pelo prefeito por que havia trazido pouca farinha, foi logo respondendo: “Jair, não trouxe pouca não... É que os 120 litros que eu trouxe não deu pra quem quis. Mas, eu mandei pegar o restinho que tinha ficado lá em casa, para vender ainda hoje”.

Aí quem sorriu fui eu! Tratei logo de reservar minha encomenda e pedi para Renan deixar na prefeitura, onde estaria concluindo meu trabalho com a equipe do município.

No final da manhã, pouco antes da hora de ir embora, Renan me aparece com 12 litros de farinha. Um saco enorme que, certamente, eu não teria como embarcar no avião. Tratei de dividir a farinha com a equipe que estava trabalhando comigo e aproveitei a oportunidade para conversar um pouco com ele.

Aí soube de tudo! Antes da feira, os produtores da comunidade de Andiroba estavam com sérias dificuldades financeiras. Não tinham onde vender a farinha que produziam e, quando conseguiam fazê-lo, tinham que vender a preços muito baixo, para atravessadores. Contou-me que agora era diferente! Com a feira, os produtores vendiam diretamente para o consumidor local e que, ele já estava treinando outras pessoas da comunidade para aumentar a produção da farinha, pois, a demanda (inclusive de pessoas de Manaus) estava muito maior que a capacidade de produção deles.

Ao me entregar a farinha, não deixou que eu pagasse. Disse-me apenas o seguinte: leve minha farinha para Brasília. Diga que é a Farinha de Andiroba”, do Manaquiri! A melhor farinha que eles vão comer! E, que um dia venham aqui conhecer a nossa feira do produtor.

Provei a farinha ainda lá em Manaquiri. Impossível descrever quão gostosa ela é. Só provando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário